Cristais na Urinálise: Quando São Normais e Quando Indicam Doença
- Giovana Balarin
- 31 de ago.
- 3 min de leitura

A cristalúria é um achado frequente na rotina laboratorial de cães e gatos. Porém, a presença de cristais nem sempre significa doença: pode ser um achado fisiológico ou indicar risco de urolitíase e distúrbios metabólicos. A interpretação correta depende da correlação com pH urinário, densidade, dieta e predisposição racial.
Cristalúria Fisiológica x Patológica
Cristalúria fisiológica
Ocorre em animais hígidos, sem sinais clínicos.
Cristais se formam por supersaturação da urina durante o resfriamento da amostra.
Exemplo: oxalato de cálcio monohidratado ou dihidratado em baixa quantidade.
Normalmente não há associação com alterações clínicas.
Cristalúria patológica
Indica processo metabólico ou urinário anormal.
Muitas vezes está associada à formação de urólitos ou intoxicações.
Exemplo:
Oxalato de cálcio monohidratado em grande quantidade → pode indicar intoxicação por etilenoglicol.
Cristais de cistina ou urato de amônio → geralmente relacionados a distúrbios metabólicos ou defeitos hereditários.
Influência da dieta
A composição alimentar pode favorecer ou inibir a formação de cristais:
Dietas acidificantes: favorecem oxalato de cálcio.
Dietas ricas em proteína animal: aumentam excreção de ácido úrico → predisposição a urato de amônio.
Dietas alcalinizantes: podem induzir cristalúria de estruvita (fosfato triplo).
Relação com o pH urinário
pH ácido: favorece oxalato de cálcio, urato e cistina.
pH alcalino: favorece estruvita e fosfato de cálcio.
A interpretação deve sempre considerar se o pH foi alterado por medicamentos, dieta ou infecção urinária.
Predisposição racial
Algumas raças apresentam maior risco de determinados tipos de cristalúria:
Dálmata: predisposição a urato de amônio (defeito no metabolismo de purinas).
Bulldog inglês e Dachshund: predisposição a cristais de cistina.
Schnauzer e Lhasa Apso: predisposição a oxalato de cálcio.
Conclusão
A presença de cristais na urinálise deve ser interpretada com cautela: em alguns casos é apenas um achado fisiológico, mas em outros pode indicar doença metabólica ou risco de urolitíase. A chave está em correlacionar os achados laboratoriais com dieta, pH urinário, predisposição racial e sinais clínicos do paciente.
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Tabela comparativa – Principais cristais na urinálise de cães e gatos
Cristal | Morfologia | pH associado | Fisiológico ou Patológico? | Relevância clínica |
Estruvita (fosfato triplo) | Prismas retangulares, aspecto de "batta de ouro" | Alcalino | Pode ser fisiológico em pequenas quantidades | Frequentemente associado a infecção urinária bacteriana e formação de urólitos |
Oxalato de cálcio dihidratado | Pirâmede (em X) | Ácido a neutro | Pode ser fisiológico | Achado comum em cães e gatos sem doença urinária |
Oxalato de cálcio monohidratado | Agulhas alongadas (em forma de palito ou barril) | Ácido | Geralmente patológico | Pode indicar intoxicação por etilenoglicol ou risco de urolitíase |
Urato de amônio | Esféricos, com projeções espinhosas ("ouriço") | Ácido | Patológico | Associado a distúrbios metabólicos (ex.: Dálmata) e shunt portossistêmico |
Cistina | Placas hexagonais incolores | Ácido | Patológico | Defeito hereditário no transporte de aminoácidos → risco de urolitíase em Bulldog, Dachshund |
Fosfato de cálcio | Cristais prismáticos ou em rosetas | Alcalino | Pode ser fisiológico | Geralmente pouco relevante, mas pode estar presente em urina estagnada |
Bilirrubina | Agulhas finas ou grânulos dourados | Ácido | Pode ser fisiológico em cães machos | Em excesso: doença hepática ou hemólise |
Colesterol | Placas retangulares transparentes com bordas entalhadas | Variável | Patológico | Associado a síndrome nefrótica ou proteinúria grave |
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