Esplenectomia em Cães e Gatos: Entenda as Consequências e Reações do Organismo Após a Retirada do Baço
- Giovana Balarin
- 21 de out.
- 3 min de leitura

A remoção do baço (esplenectomia) é um procedimento relativamente comum em medicina veterinária, indicado em casos de ruptura traumática, torção esplênica, hemangiossarcoma, abscessos, hematomas ou hiperplasia nodular. Apesar de o animal conseguir sobreviver sem o órgão, a ausência do baço provoca uma série de adaptações fisiológicas que vão resultar em alterações laboratoriais e merecem atenção clínica.
Funções essenciais do baço
Antes de compreender o impacto da esplenectomia, é importante relembrar o papel desse órgão:
Filtragem sanguínea: o baço remove hemácias envelhecidas, parasitadas ou danificadas e atua na reciclagem do ferro;
Função imunológica: produz linfócitos e anticorpos, participando da defesa contra microrganismos — especialmente bactérias encapsuladas;
Reserva sanguínea: armazena hemácias e plaquetas, liberando-as em situações de emergência, como hemorragias;
Hemocaterese e fagocitose: macrófagos esplênicos fagocitam células sanguíneas anormais, mantendo o equilíbrio hematológico.
Alterações esperadas após a esplenectomia
Quando o baço é removido, outros órgãos assumem parte de suas funções, mas o organismo passa por um período de adaptação. As principais consequências clínicas e laboratoriais incluem:
1. Alterações hematológicas
Aumento de plaquetas (trombocitose reativa): ocorre pela perda do “estoque esplênico” e estímulo medular compensatório;
Presença de hemácias anormais: como corpúsculos de Howell-Jolly, já que o baço não realiza mais a filtragem dessas células;
Leve anemia transitória: geralmente não regenerativa no início, podendo evoluir conforme a resposta medular;
Leucocitose leve: como resposta inflamatória pós-cirúrgica.
2. Redução da imunidade
Sem o baço, há queda na produção de linfócitos e anticorpos, principalmente contra microrganismos encapsulados como Streptococcus pneumoniae, Haemophilus e Salmonella. Por isso, os animais esplenectomizados são mais suscetíveis a infecções sistêmicas e devem ter o sistema imunológico cuidadosamente monitorado.
3. Impactos sobre a filtragem sanguínea
Com a ausência do baço, o fígado e a medula óssea passam a exercer parte da função de filtragem e reciclagem do ferro. Isso explica o aparecimento de hemácias nucleadas, leves icterícias pós-cirúrgicas e variações nos índices hematimétricos durante a fase de adaptação.
4. Alterações fisiológicas compensatórias
O organismo tende a se adaptar:
O fígado intensifica sua função fagocitária (aumentando o papel de “baço acessório”);
A medula óssea acelera a eritropoese;
Há redistribuição do volume sanguíneo, com redução da capacidade de resposta imediata a hemorragias.
⚠️ Complicações possíveis
Embora muitos animais se recuperem bem, algumas complicações podem ocorrer:
Infecções bacterianas graves (septicemias);
Distúrbios de coagulação (devido à trombocitose persistente);
Anemia crônica de leve intensidade;
Risco aumentado em doenças hemolíticas e inflamatórias sistêmicas.
Hemólise pós-esplenectomia: super reação!
O baço tem papel essencial na remoção de hemácias envelhecidas ou anormais antes que elas se rompam na circulação.
Após a esplenectomia, essa função de “triagem” desaparece, e o sangue pode apresentar sinais transitórios de hemólise.
Nos primeiros dias ou semanas, é comum observar:
Leve aumento de bilirrubina indireta, devido à destruição de hemácias antigas ainda circulantes;
Presença de hemoglobinemia discreta ou icterícia subclínica;
Reticulocitose leve, indicando resposta regenerativa da medula óssea.
Essas alterações costumam ser temporárias e adaptativas, refletindo o esforço do organismo em redistribuir as funções de filtragem para o fígado e a medula óssea.
⚠️ Quando a hemólise é patológica
Em alguns casos, a hemólise pós-esplenectomia pode se intensificar e indicar um problema associado, como:
Doença hemolítica pré-existente, como anemia imunomediada;
Reação transfusional, quando houve transfusão incompatível durante a cirurgia;
Trombocitose acentuada, gerando fragmentação mecânica de hemácias;
Dano oxidativo por drogas ou toxinas;
Infecções bacterianas com toxinas hemolíticas.
O quadro pode se apresentar como anemia regenerativa, com aumento de reticulócitos, presença de esferócitos ou esquistócitos e elevação significativa de bilirrubina.
A hemólise pós-esplenectomia pode ser fisiológica e transitória, quando o corpo se ajusta à ausência do baço, ou patológica, quando há fatores adicionais desencadeando a destruição das hemácias. Se o animal já vem com um quadro hemolítico, a remoção do baço pode piorar e intensificar ainda mais esse quadro.
Monitoramento pós-esplenectomia
O acompanhamento laboratorial é essencial:
Hemogramas seriados (para avaliar reticulócitos, plaquetas e corpos de Howell-Jolly);
Dosagem de proteínas séricas e marcadores inflamatórios;
Controle clínico de temperatura, mucosas e apetite.
Além disso, recomenda-se: Manter vacinação e vermifugação atualizadas; Redobrar a higiene e prevenção de infecções; Realizar acompanhamento periódico, principalmente em animais idosos.
A esplenectomia é um procedimento que exige compreensão das repercussões hematológicas e imunológicas. Mesmo que o animal consiga viver bem sem o baço, a ausência desse órgão modifica o equilíbrio das células sanguíneas e da imunidade.
Para o clínico, reconhecer essas alterações é fundamental para diferenciar respostas fisiológicas pós-cirúrgicas de sinais de complicações — garantindo uma conduta segura e acompanhamento adequado.
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