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Fosfatase Alcalina (FA) na Medicina Veterinária: Isoenzimas e Interpretação nas Diferentes Espécies

  • Foto do escritor: Giovana Balarin
    Giovana Balarin
  • há 12 minutos
  • 3 min de leitura


Imagem ilustrativa para o texto

A fosfatase alcalina (FA) é uma enzima de membrana amplamente distribuída no organismo, mas com atividade variável entre os tecidos e espécies. Embora o aumento da FA sérica seja frequentemente associado a alterações hepáticas, sua interpretação exige cautela, já que diferentes isoenzimas podem contribuir para esse resultado.


O que é a Fosfatase Alcalina (FA)?

A FA é uma metaloenzima dependente de zinco e magnésio, com máxima atividade em pH alcalino, responsável pela hidrólise de ésteres fosfóricos. Está presente nas membranas celulares de tecidos epiteliais envolvidos e

m transporte ativo, especialmente:

  • Fígado (canalículos biliares)

  • Osso (osteoblastos)

  • Intestino (bordas em escova dos enterócitos)

  • Rim (túbulos proximais)

  • Placenta (em fêmeas gestantes)


Isoenzimas da Fosfatase Alcalina

A FA é uma família de isoenzimas, com pequenas diferenças estruturais e funcionais conforme o tecido de origem. Nos animais domésticos, as principais isoenzimas são:

Isoenzima

Tecido de origem

Situações de aumento

FA hepática (FAH)

Canalículos biliares

Colestase, indução por drogas, lesão hepatocelular secundária

FA óssea (FAB)

Osteoblastos

Crescimento, fraturas, osteossarcoma, doenças ósseas metabólicas

FA intestinal (FAI)

Enterócitos

Lesões intestinais extensas (aumento raro)

FA induzida por corticosteroides (FAC)

Fígado (isoforma específica dos cães)

Uso ou excesso de glicocorticoides

FA placentária (FAP)

Placenta

Gestação (algumas espécies)

💡 A origem do aumento sérico depende não só do tecido envolvido, mas também da concentração e ação local de FA e da extensão da lesão. Em tecidos com baixa atividade, como intestino e rim, somente lesões muito extensas geram aumentos detectáveis no soro.

FA em Cães e Gatos

Cães

  • Espécie com maior variação fisiológica da FA.

  • Possuem isoenzima induzida por corticosteroides (FAC), exclusiva dos cães, que pode elevar significativamente os níveis séricos em:

    • Tratamentos com corticoides

    • Síndrome de Cushing (hiperadrenocorticismo)

    • De forma menos intensa por Estresse Crônico (Inflamação)

  • Aumento também observado em colestase e em animais jovens devido à atividade osteoblástica.

  • Meia-vida: cerca de 2–3 dias (FAH) e até 5 dias (FAC).

Gatos

  • Não possuem isoenzima induzida por corticosteroides.

  • A meia-vida é curta (6 horas).

  • A FA pode aumentar em casos de lipidiose hepática, colangite ou obstrução biliar, mas nem sempre atinge valores muito elevados, portanto qualquer aumento é relevante.


FA em Equinos

  • A FA é encontrada no fígado, ossos, intestino e placenta.

  • A isoforma intestinal é mais expressiva do que em carnívoros, e pode contribuir para aumentos moderados sem doença hepática evidente.

  • Em potros, o aumento fisiológico é comum devido à intensa atividade osteoblástica.

  • Em adultos, elevações significativas costumam estar associadas à colestase, indução enzimática por fenobarbital, ou lesões intestinais graves.

  • A FA não é um marcador sensível e específico de lesão hepática isolada — deve ser interpretada junto com a GGT e bilirrubinas.


FA em Ruminantes

  • A principal origem da FA é óssea e hepática.

  • Em bezerros e cordeiros jovens, os níveis podem ser naturalmente altos (crescimento).

  • Em adultos, aumentos geralmente estão associados à colestase, doenças hepáticas crônicas, apesar de não ser considerada uma enzima hepato específica.

  • Em bovinos, a FA intestinal também pode contribuir modestamente, especialmente em lesões entéricas difusas ou parasitárias severas.

  • A GGT é mais confiável como marcador de colestase nessas espécies.


📈 Causas Comuns de Aumento de FA

Categoria

Exemplos

Colestase

Colangite, obstrução biliar, neoplasias hepáticas

Indução enzimática

Corticosteroides, anticonvulsivantes (fenobarbital)

Doenças ósseas

Crescimento, fraturas, osteossarcoma, raquitismo

Doenças endócrinas

Hiperadrenocorticismo, hipotireoidismo, diabetes mellitus

Lesões intestinais extensas

Enterite difusa, linfoma intestinal

Gestação

Aumento discreto (placentária, em algumas espécies)


Interpretação Clínica

  • Nem todo aumento de FA indica doença hepática.

  • É essencial correlacionar com histórico clínico, idade, uso de medicamentos e outros marcadores hepáticos (ALT, AST, GGT, bilirrubina).

  • Em cães jovens, o aumento é fisiológico.

  • Em gatos, mesmo elevações discretas devem ser investigadas.

  • Em equinos e ruminantes, o valor diagnóstico isolado é limitado — deve ser avaliado no contexto do painel hepático completo.


A fosfatase alcalina é uma enzima multifatorial cuja interpretação varia conforme a espécie, o tecido envolvido e o contexto clínico. Compreender suas isoenzimas e particularidades permite ao clínico e ao patologista evitar interpretações equivocadas e direcionar o diagnóstico de forma mais precisa.


Referências Bibliográficas

  1. Kaneko, J. J., Harvey, J. W., & Bruss, M. L. (2019). Clinical Biochemistry of Domestic Animals. 6th ed. Academic Press.

  2. Stockham, S. L., & Scott, M. A. (2020). Fundamentals of Veterinary Clinical Pathology. 3rd ed. Wiley-Blackwell.

  3. Thrall, M. A. et al. (2022). Veterinary Hematology and Clinical Chemistry. 3rd ed. Wiley-Blackwell.

 
 
 

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